O Início dos Sintomas

Pena

(Bastidores da reportagem A Febre de Sentir)

O primeiro desafio talvez tenha sido encontrar a pauta. A revista seria feita em pouco tempo e nenhum assunto me chamava atenção ou interessava. Alguns dizem que devemos deixar a inspiração chegar a seu tempo, outros, que a busca traz a inspiração. Digamos que me encaixo entre esses dois grupos e, por ironia do destino, foi exatamente isso que aconteceu.

Aguçados todos os sentidos para qualquer acontecimento que pudesse render uma reportagem, me vi cego, surdo, mudo, encapsulado numa bolha, impossibilitado de encontrar algo que me desprendesse. Até que um belo dia, desistente de pensar sobre o assunto, fui à livraria (paraíso, assim como a biblioteca, às mentes cansadas). Entre livros e livros, títulos e títulos, obras e obras, namorava alguns, rejeitava a outros, como de hábito, perambulando pelo recinto. A capa acinzentada de um livro recém-lançado chama-me a atenção.

Nada de extraordinário (não confunda-se simplicidade com feiura), um fundo cinza, uma estátua de anjo e o título “A morte como companhia”. Títulos sempre me puxam e bons títulos me abduzem. Escrito por Rondon de Castro, que fora meu professor, portanto, mais um auxílio, a “companhia da morte” trouxe-me a inspiração.

Realizada a reunião de pauta, minha ideia foi lapidada e concluída em: professores da UFSM que produzem literatura. Novos desafios: Quem? O que? Quando? Onde? Como? Por que? Eu tinha uma ideia, agora precisava descobri-la. Precisava encontrar as fontes e contatá-las. Precisava estabelecer alguns limites. Precisava, principalmente, decidir de que forma seria feita. A única coisa que tinha era o gancho, causador da ideia.

A pauta foi se desenvolvendo, em seu próprio ritmo. Se chegou por si ou se foi trazida pela busca do autor, não importa; cada ideia tem seu tempo de preparo para que não saia crua ou queimada. Assim, uma luz puxava outra, até que o planejamento concluiu-se. Restava ver se poderia fazer o que imaginei.

“Pensei em escrever um texto mais literário, posso?”

“Sim, tua pauta pede um texto bem literário. Inclusive seria interessante que tu usasses artes invés de fotos.”

“Sim, pensei nisso e já tenho algumas ideias. Na verdade imaginei três páginas: uma dupla, na qual a primeira seria uma espécie de capa, na segunda, texto, e o desenho de uma máquina de escrever que cobrisse a parte de baixo de ambas, e mais uma sozinha, com a continuação do texto e o desenho de uma pena.”

“Pode ser, mas a organização da revista veremos mais adiante, então não há número fixos de páginas, por ora.”

Recebidas todas as bandeiras verdes que precisava, restava fazer a matéria. Procurei possíveis fontes e encontrei seis nomes. Destes, restaram-me quatro. Dois não consegui realizar contato. Mandei mensagens por Facebook e via e-mail que foram prontamente respondidas. O interesse dos quatro interessou-me mais. Entrevistas individuais marcadas. Gravador em mãos. Ouçamos e questionemos.

A recepção de todos foi sensacional. As respostas exalavam sinceridade. É sempre interessante ver pessoas recordando passados que ainda se fazem presentes. Após as entrevistas, todos conversaram um pouco, seja sobre literatura e magistério ou não. Senti que todos foram tocados pelo assunto, inclusive eu… principalmente eu… E o resto, bem, o resto é história, e história vira reportagem.

 

Texto publicado no site da revista .TXT, 19ª edição, Junho de 2014.

Link original do texto: O Início dos Sintomas – Revista .TXT

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