Paixão e Simplicidade

Orgulho e preconceito

Frontispício da 1ª edição de Orgulho e preconceito (1813)

Orgulho e preconceito é a principal obra de Jane Austen, uma das maiores representantes do classicismo inglês e um clássico da literatura mundial. É um retrato da realidade inglesa do século XVIII. Uma obra direta, concisa, mas não talhada; essencial, por assim dizer. É fruto do período de maturidade literária da autora e traz os personagens Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy, protagonistas da trama, como duas das criaturas mais completas da literatura universal, conforme afirmou Otto Maria Carpeaux.

Jane Austen nasceu em Steventon, a 16 de dezembro de 1775. Filha de um reverendo, possuía seis irmãos e uma irmã. Estimulada desde cedo pelo pai nos caminhos literários, começou a escrever pequenas histórias e algumas peças durante a adolescência. Sua obra se resume aos temas relações familiares, noivado e casamento, não por isso deixando de ser original. Explorou com perspicácia as características dos profundos personagens que criou, representando, através deles a confusa sociedade em que vivia. Em 1811 consegue publicar Razão e sensibilidade; em 1813 lança Orgulho e preconceito, seguido de Mansfield Park e Emma, em 1814 e 1815, respectivamente. Nenhum de seus livros, entretanto, trazia seu nome; eram assinados apenas como “uma lady” ou “da mesma autora de Razão e sentimento”. Faleceu em 17 de julho de 1817, aos 41 anos, em Winchester.

Orgulho e preconceito, como principal modelo do estilo literário de Austen, apresenta uma luta social pelo amor. Partindo contra as regras sociais da época, os personagens lutam por seus sentimentos, de forma, às vezes, incompreendida pelos que veem de fora. Porém, apesar de falar de amor, de família, de luta pelo que se quer e acredita, sua história apresenta-se quase como um quebra-cabeças. Ele deve ser resolvido da forma mais efetiva; sem floreios, sem melodramas, sem derramamento excessivo de lágrimas, pragas ou lamentações; nenhuma paixão arrebatadora ou amor sublime. Tudo está sob controle, é racional. Existem problemas e estes precisam ser resolvidos e é isto que acontece.

Seu texto é totalmente costurado por diálogos. Não há uma descrição excessiva de aparências ou paisagens, tudo que o leitor precisa saber é dito pela boca dos personagens. Isso faz com que o foco da história deixe de ser o contexto e passe a ser as pessoas em si. Não importa muito o lugar em que estas pessoas estão, nem se elas são altas ou baixas, gordas ou magras, feias ou belas. O que importa são as pessoas per se, seus pensamentos, temperamentos, sentimentos, ideias, atitudes e, por consequência, como a sociedade é formada por tais elementos.

A história é completa: tem um começo, um meio e um fim bem definidos. Tudo o que acontece, acontece para a história e pela história. Os eventos seguem uma linha específica de evolução. Os fatores não simplesmente mudam, mas vão gradualmente se transformando, racional e logicamente. O leitor capta as variações e gradativas modificações, mas não as percebe nitidamente até que sejam outra coisa totalmente diferente. Como a vida, o leitor segue vivendo o momento, até que chega a um ponto em que para, pensa e percebe que as coisas já não estão como eram. E é tudo tão natural, tão logicamente encadeado, que mesmo a transformação do ódio em amor de Elizabeth por Darcy é, não só compreensível, como justificável.

É uma obra total. Perfeita, me arriscaria a dizer. Diálogos inteligentes que, pouco a pouco, vão montando o quadro completo da diegese. Uma narrativa suave, atraente, que prende o leitor e o deixa querendo mais. Não por dúvidas ficadas com relação à história, mas pelo prazer e curiosidade de conhecer as outras obras da autora. É a bela simplicidade, que não é inferior em nenhum aspecto às obras floreadas, mas que, pelo contrário, pode chegar a superá-las. Como opinião pessoal, é um dos melhores livros que já li.

AUSTEN, Jane. Orgulho e preconceito. São Paulo: Abril, 2010. (Clássicos Abril Coleções; v. 13).

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