Bengalas Amaldiçoadas e Escorpiões Robóticos à Luz de Velas

Enéias Tavares

Foto: Alexandre Alaniz

Há exatamente setenta e oito invernos que me encontro nesta situação. Culpa daquele maldito mago cristão cabalista, que enfrentamos na cidade de Feio Horizonte.

Recebi um amigo de presente desde ambas nossas infâncias. Prometi que sempre o protegeria. Crescemos juntos e tornei-me seu cão de guarda. Andamos por todo este Brasil a encontrar pessoas, salvar artefatos antigos e assassinar perversos alcaides.

Ah, perdão. Meu nome é Adamastor. Um nome branco demais para uma origem indígena, sim. Mas condizente com minha selvageria frente às ameaças e doçura entre amigos. Em nossa batalha contra o pérfido mago, este jogou-me um feitiço demoníaco, aprisionando-me para sempre nesta forma de bengala de chifre de boi. Meu amigo vingou-me e condenou o tinhoso alquimista ao eterno abraço da escuridão. Continuar lendo

Sobre Penas e Espadas

Dom Quixote

Página de rosto da 1ª edição de D. Quixote (1605)

Quanta arrogância achar-se capaz de criticar ou sequer discorrer sobre um dos maiores clássicos universais! E inutilmente! O que mais haveria para dizer sobre o romance mais lido de todos os tempos? Como falar sobre o Quixote de Cervantes?

Sempre há o que falar sobre o imponente Engenhoso Fidalgo Dom Quixote da Mancha. Afinal, “Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”, segundo Italo Calvino. Quanto à minha capacidade de falar sobre ele, é discutível. Que sei eu perto do molde dos romances de ficção? Posso apenas apresentar minha limitada visão sobre o incrível universo quixotesco. Continuar lendo