O Espelho do Real

o vermelho e o negro

Capa de edição francesa rara, ilustrada, de 1922, de O vermelho e o negro

“Pois bem, senhor, um romance é um espelho que se carrega ao longo da estrada. Tanto pode refletir para os seus olhos o azul do céu como a imundície do lamaçal da estrada. Por acaso o homem que carrega o espelho em sua sacola poderia ser acusado de imoral? Seu espelho mostra a sujeira e o senhor acusa o espelho? O senhor deveria acusar o longo caminho onde se forma o lamaçal e, sobretudo, o inspetor das estradas que deixa a água apodrecer e o lodo se acumular.” Esta é uma metáfora utilizada por Stendhal em seu clássico O vermelho e o negro. Um dos primeiros aspectos que se pode notar, assim, é a utilização de tópicos do contexto político na obra. Continuar lendo

Contemplação

contemplação

Desci do ônibus na última parada enquanto voltava para casa. De súbito, uma imagem me surpreende e arrebata. Passava por ali todos os dias, mas sempre via apenas mais do mesmo. De repente, o novo. Nunca tinha visto aquela diferença. No choque eu reparei; e gostei do que reparei.

A noite estava mais escura que o normal. A lua brilhava um brilho fosco, por trás das espessas negras nuvens. O céu estranhamente desestrelado (permita-me o neologismo), não devido às excessivas luzes da cidade, mas à excessiva e também estranha confusão do clima. A noite estava mais quente que o normal; um calor inesperado para uma comum noite invernal. Continuar lendo